Hoje... Hoje Mulherada, eu quero falar da beleza que verdadeiramente importa. A beleza de alma! Nesse clima de despedida, como não deixar as lágrimas regarem tantas lembranças?! Quem não chora?! Quem não rega sua semente?!
Hoje, tive que ir lá, dizer até logo, para mulher que mais influenciou minhas decisões nessa vida. Foi ali, no seu "pedacinho de céu" que eu fui bebe dançarina, menina bailarina, "Tia" de tantas, mulher moça.
Foi embalada de muita música clássica e colan suado, que eu descobri como a arte toca o coração. Foi com meus movimentos descoordenados que pude ser linda, mesmo sendo um patinho feio. Foi ali, que eu aprendi a sentir. Aprendi a falar sem precisar emitir palavra. Foi ali, numa disciplina quase militar que eu entendi como se alcança resultados. Foi sobre o olhar dessa Mulher Maravilhosa, que eu fui entendendo o mundo, conquistando minhas primeiras medalhas, vivenciando os primeiros fracassos. Foi através dela, que eu entendi o que é RESPEITO. O que merece aplauso. O que a ARTE realmente significa.
Essa mulher de poucas palavras em aula e muitas no café, me ensinou a agir. A movimentar. A fazer acontecer. A qualificar de igual pra igual interior e capital. A Tia Marlene, não me ensinou a sonhar. Ela me ensinou a tornar real. Foi através daqueles ensaios puxados sob seu olhar minuncioso, (-alguém tira aquele caderno das mãos dela, gente! Rs...), a tutela da Cláudia (Sim, Sra!), a interrupções da Vica (ufa! Rs...) e a simpatia da Tia Lídia (melhores gargalhadas) que eu entendi como "pegar no pé" é gesto de AMOR. Que driblar o cansaço físico, é dever. Que qualquer um pode, desde que se jogue. Ouvir quem entende do assunto, interessa. Ouvir quem ama o assunto, apaixona.
Quantas de nós, fomos baliarinas?! Quantas de nós, saíamos dali, acreditando que poderíamos ser delicadas e leves?! Nem que por 5 min. coreografados?!
Essa mulher, nos trouxe três filhas bruxas. Sim, daquelas que através de magia, transformam "sapas" em princesas. Não, elas não foram fadas. Não vieram com varinha de condão e plim, nos transformaram magicamente em Belas Adormecidas. Elas nos fizeram acordar. Deram muita "vassourada". Ensinaram-nos a varrer, nos permitiram "Cindelerar". E da vassoura?! Quantos voos. Internos até.
Hoje, eu não posso falar de maquiagem, corte de cabelo, roupa de moda muito menos produto de beleza. Hoje, eu QUERO falar da BELEZA em si. De uma pessoa, que não precisou de artifício para ser Rainha. Muito menos de coroa. E se quer mesmo saber?! Nem de sapatilha para nos fazer entender o Balé. (Ah! O caderninho...)
Ela, com a desculpa de sua arte, agregou pessoas. Abriu nosso peito infantil com as mãos, cavou fundo em cada uma, plantou semente, regou e ficou ali vendo florescer. Um galho de disciplina, outro de respeito, cuidado com quem nos cerca, folhinha de garra, pode melhor a ansiedade, olha a responsabilidade menina! Adube com AMOR.
Ela me fez entender que trabalhar em equipe, garante sua particularidade. Foi através desse aglomerado de "bailarinas pretendentes" que eu fiz as melhores amigas, que eu fiz minha primeira viagem longe da mamãe, que eu subi em vários teatros incríveis, que eu pude ser tantas, que eu descobri o amor, foi naquele quartinho que eu fiz minhas primeiras fofocas, rs... Foi ali, que eu aprendi que vaidade faz mal. Foi lá, que eu fui aceita. Foi lá que eu ganhei aplausos.(Nossa!!! Quem me daria tantas oportunidades, assim?!) Naquele poço de valores... Bailarinas Pretendentes se tornaram advogadas, doutoras, mães, senhoras, professoras... Eu?! Eu me tornei atriz. Pq depois dali, como viver sem a rotina artesanal de me transformar em tantas, mais lindas e engraçadas do que eu?!
Sabe, se vc quer um creme de beleza?! Eu não tenho outra fórmula: coloque sua malha, mucha a barriga, espere a música, mantenha-se no seu lugar, e ao abrir das cortinas, olhe fixamente lá no fundo. Tá vendo?! A nossa "Tia Marlene" vai soltar a música.
Baile.
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