domingo, 3 de julho de 2016

PAI, EU TÔ NO CINEMA!



Quando eu decidi me tornar atriz, eu era menina... Na minha cidade, a gente tinha um cinema gigantesco em que eu de vestido de pompom, subia as escadarias iluminadas por um lanterninha, de mãos dadas com meu amado pai (que nunca gostou de sair de casa, a não ser pra ir ao cinema) segurando saquinho de balas e a melhor sensação de proteção do mundo. Doces e cinema. E uma música de abertura da tela, que piscavam luzes na lateral, fazia meu coração tripidar. Era mágico. Escutar as gargalhadas do meu pai, que me impedia ouvir as falas dos atores... Ah! Aquilo tinha um sabor... 



Em poucos anos, o cinema fechou.E eu me divertia fazendo as pessoas darem gargalhadas da minha esquisitice no teatro. Era eu o patinho feio desengonçado, a caveira doida, a bruxinha que era boa, a macaca que comia piolho. Eu ADORAVA escutar o público rindo de mim. Como no palco rir de vc é uma benção! Na rua eu não me sentia bem (alguém sente?), mas ali, sobre tantas luzes, eu me sentia completa. Exageradamente feliz! Sabia exatamente a hora que o público ia rir. Respirava fundo e esperava alguns segundos... Aquelas gargalhadas calavam o silêncio. Não eram tão gostosas como do meu pai, mas me renderam prêmios.



 Caramba! Em pouco tempo eu me tornei a doidinha do teatro. A menina "sem vergonha". Mas, pq cargas d'água a gente tem que ter vergonha de levar as outras pessoas a sorrirem?! Ainda que de deboche?! Hoje, quase 3 décadas depois, muitos cursos, investimentos e uma entrega absoluta... Não é que vou poder, descer a rampa do cinema, que agora já não é tão grande, talvez vestida de pompom, talvez de mãos dadas com meu pai (acho que ele não vai ter coragem de ir dessa vez), sentar naquelas cadeiras vermelhas e colocar a minha cara pra bater?!



 Estarei ali, cara a cara com uma mulher, muito mais intensa do que eu (sim isso existe), mostrando uma face que eu nem imaginei viver. Chegou a hora de expor completamente. De rasgar as máscaras da vida e deixar a dor sair. De calar a vaidade, de se permitir sentir. Meus amigos, dessa vez, eu não os farei rir. E não será um rostinho bonito. Nós crescemos... E a dor tb. Dessa vez, não vou mostrar o que vcs querem ver. Eu me destruí pra viver este papel. E quer saber?! Foi a melhor coisa que eu já fiz na minha vida!

Marina Azze

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