quinta-feira, 1 de março de 2018

SOBRE O FILME JANELAS- DEPOIMENTO DE UMA ATRIZ PRODUTORA...


Não encontrei alegria maior do que fazer cinema. A alegria me invade, desde quando o diretor menciona, um roteiro ainda nem pronto. Já começo a imaginar a caracterização da personagem, as locações, os diálogos, as dores mais íntimas... Já começo a querer me despir dos meus achismos e deixar a história falar através de mim. O encontro com essa história, foi algo único. Um dia, tomando café com minha Tia Thereza, ela disse: "Marina, pq vc não faz um filme lá na Fazenda? A fazenda é linda, toda conservada, até os móveis são de 1860." A gente estava terminando de Filmar "Subúrbios" e saímos com a equipe para passar um dia na Fazenda Saquarema em Carmo da Cachoeira. Que dia fantástico! Ficamos maravilhados, um pedaço vivo de história. Filmamos cada cantinho para inspirar, tomamos o melhor café, conversamos com os nativos, comemos bolo e pão de queijo e saímos de lá, deslumbrados com as paisagens e o bosque de eucalipto. Com uma certeza: Esse lugar merece um longa-metragem. 


E não demorou muito, o Lucas Marques, diretor e roteirista.. Me ligou dizendo que tinha um roteiro pronto. E que gostaria de me mostrar. Qdo li o roteiro fiquei sem ar, a densidade de todas as personagens, os diálogos profundos... As questões psicológicas e tantos segredos que cada personagem tinha, é de fazer qualquer ator sonhar por um papel desse na vida! Abrimos os testes e começamos a escalar nosso elenco. E assim, chegamos nesses rostos: 


Ok, claro que ainda estávamos assim, esses rostos são dos bastidores das filmagens já. kkkkk... Foi desafiante, eu tive que ficar ruiva, era a primeira vez na vida que eu ia deixar de ser loira. O que sei que parece uma bobagem, mas mexeu muito comigo. Afinal, tudo que eu havia conquistado foi com minha imagem loirinha... Eu seria mãe de duas atrizes maravilhosas que eu descobri na minha agência, das quais exigiriam de mim total entrega. Contracenaria com a Elisa Aleva, que é uma atriz de uma sensibilidade única, colocaria enfim duas atrizes monstras que formei no espaço para dar seus primeiros passos no cinema, tentaria convencer um ator meu, de que vale a pena amar o cinema e investir nele, dividiria cena mais uma vez com o Leo Andrade, ator que me impressiona sempre, e ainda teria no set, somente grandes amigos dos quais admiro muito. Eu queria e precisava fazer bem. Insisti e convenci a minha mãe a participar do elenco tb e ali, estávamos nós, 10 pessoas completamente entregues e ansiosos durante todo o estudo até os dias em que ficaríamos isolados do mundo na Fazenda Saquarema para podermos contar nossa história com toda a nossa dedicação. Foram meses de preparação. Caçamos figurinos, objetos de arte, estudávamos a fundo cada personagem juntos. Tentamos patrocínio de segurança, pq ao estudarmos o local, descobrimos que havia muitos assaltos na época da colheita do café na região. E quer saber? Não conseguimos... Depois de tamanho esforço para conseguirmos caracterizar todo o elenco, não conseguimos dinheiro para ter com a gente um segurança para garantir tranquilidade durante nossas filmagens. Tentamos a prefeitura de Carmo da Cachoeira... Nada! Tentamos bombeiros, polícia... Nada. Mas, essa história já gritava em nossos corações. Queríamos arriscar. E assim, decidimos correr atrás de um apoio de transporte para nos ajudar a carregar a nossa vida até a fazenda. Nosso elenco se mobilizou... Leandro Acayaba viu nossa luta, e nos indicou a Transfox Transportadora que através do Péricles George Pereira, gentilmente levou 4 atores de nosso elenco e muitos objetos de figurino e cenário para Saquarema. Bingo! Vamos assim começar a contar essa história tão forte! 











Foram 15 dias e noites, de filmagens sem interrupções, da primeira parte do filme, com elenco com um figurino ultra pesado e quente, apliques no cabelo e diálogos densos numa terra onde podia ouvir o barulho do assoalho de madeira. Parecia que compúnhamos uma nova música, que pintávamos um novo quadro.


A segunda parte... Filmamos na Fazenda Mascatinho, dentro da Igreja. Preciso deixar aqui meus maiores agradecimentos a Patrícia Frota por tão prontamente ter nos cedido o espaço, do qual passamos 3 dias, cercados por cigarras, rs... Que nos trouxeram o som exato de tensão que as cenas pediram. Que sorte a nossa! Leo Andrade com sua religiosidade nos calou com seu canto, que trouxe ainda mais poesia para composição desta história. 


Quer saber um pouquinho mais dessa história? 


"Depois de 15 anos longe da Fazenda que nasceu, Antônia (Marina Azze), agora viúva e com duas filhas, decide retornar após receber uma carta de uma das empregadas, informando que sua mãe estava muito doente. Antônia terá que enfrentar o passado que a fez desaparecer."

Ficou curioso?! Nossa Longa Metragem janelas, acabou de conquistar seu primeiro Laurel. O que significa muitíssimo para nós. Estaremos no TPCINE um festival que vai acontecer na cidade de Três Pontas- MG. Entre os dias 26 e 29 de abril. (sim! caiu no meu níver!).  Gostaria muito de pedir a presença de TODOS VCS! Pq foi um filme desafiante, não só em produzir como principalmente pela carga dramática que exigiu de todos os personagens. Estou louca para que vcs assistam a nossa arte e nos retorne, a opinião de vcs é muito importante pra nós. 

Não posso terminar esse post, sem agradecer a minha Tia Thereza, pela Fazenda Maravilhosa que abrigou-nos com tanto carinho, ao Lucas Marques pq não ter medo de ser atemporal, à minha mãe por ter topado sair dos bastidores e enfrentar a lente, a meus queridos atores que participaram tanto do elenco como da produção, tornando possível este filme, ao Rafael Custódio por se deixar morder pelo mosquitinho do cinema independente e ter estado ao lado de um dos momentos mais difíceis da minha carreira. 

Com amor, espero vcs no cinema! 

Marina Azze  

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